Viu estrelas e cometas passarem preenchendo aquela galáxia tão cheia de vazios. Viu a luz do Sol enfraquecer e a Terra diminuir sem que houvesse um horizonte onde se esconder. E na solidão de uma pequena nave pensou em sua amada tentando esquecê-la. De que valia amar alguém que partira em uma viagem sem volta?

O astronauta, veterano de uma guerra outrora presente apenas na ficção, partia para um planeta distante não com a esperança de recomeçar, mas apenas encontrar um final melhor. Viveria em uma terra estranha e de falsos amigos. Deveria ser sua sentença por não gritar o que sentia enquanto era tempo.

Sequer imaginava que ainda nem começara a viver.

Sob disfarces e mentiras foi bem recebido por uma princesa com nome de flor. E, quem diria, em sua vida de espião encontrou a verdade. Ela era princesa, era esposa e era mãe, e para ele tornou-se amiga. Novamente amizade. Sempre amizade. Ela falava da vida, dos medos, dos tempos perdidos. Em seu quase-silêncio o homem tudo escutava.

Mal percebeu quando em seu jardim morriam os lírios e nasciam narcisos. Tão vivos quanto a filha do rei ao qual jamais serviria. Guerras foram declaradas e ele cumpria seu papel sem questionar. Batalhas se faziam no céu infinito onde o grito de guerreiros se perdeu sem jamais ecoar. Mas seu lugar era no chão, entre as flores do novo jardim que aprendera a cultivar.

A bela flor estava solitária. Com um príncipe distante ela mostrou-se menos princesa e mais flor, menos amiga e mais amor. Sob a luz de um velho sol que parecia sempre se por, o astronauta espião compreendeu que em seu coração habitava um novo amor. Um amor proibido, mas ao menos um amor correspondido.