O Grilo e as Estrelas



Pequena criatura esverdeada a perder-se em seu voo sob a beleza de um céu estrelado. O começo do verão a trazer consigo novamente a coragem necessária para que algumas vidas saiam de seus abrigos. Assim era com o pequeno grilo de asas recém-formadas, voava a exibir-se para o mundo e correr seus perigos.

As pessoas, trabalhos e os prazos a apertar, as duas semanas que faltavam para as férias deveriam levar dois meses para passar. O jovem rapaz andava assim, preocupado, sem notar o caminho rotineiro que percorria todos os dias. Teria seguido perdido em suas preocupações, não tivesse sido escolhido para o pouso desajeitado do pequeno inseto de tons esverdeados. Ao grilo bastava estar vivo, ignorava todas aquelas preocupações humanas.

E o céu estrelado!, era absurdo como tanta gente passava sob aquela imensidão sem a ela dedicar um único olhar! Quanta gente seguia com suas vidas tediosas, incapazes de notar uma única estrela! A distraída estudante, contudo, andava admirada a encantar-se com cada distante ponto de luz que conseguia encontrar. A vida estava corrida, é verdade, mas tudo perderia o sentido se não pudesse ao menos o céu admirar.

E ele parou admirado, como há muito não fazia. Observou o pobre grilo desajeitado. Tão pequeno se comparado ao jovem universitário, e ainda assim tão cheio de vida! Ali batia um coração ainda menor vivendo cada instante longe de casa a arriscar sua vida por comida e reprodução. Tão simples e, ainda assim, tão próximo de si mesmo. E foi assim que por vários minutos o menino se esqueceu e viveu, e se perdeu na beleza da vida.

Ela andava com os olhos mais no céu do que na terra. Àquela hora, sob a infinidade das estrelas, ela era apenas poesia! Foi por isso que não o viu de imediato; distraído, ali parado a admirar a pequena vida em suas mãos. Os corpos de almas distantes acidentalmente encontraram-se esbarrando em uma estreita porção de realidade.

O pequeno grilo aproveitou sua oportunidade e para a noite novamente voou, deixando que os jovens perdidos se encontrarem. Ele encontrou os olhos dela e se perdeu na infinidade das estrelas ali guardadas. Ela se perdeu nos tons de verde que a vida poderia criar na beleza de um olhar. E naquela noite se permitiram descobrir também que poderiam ser infinitos.






Imagem retirada do link: http://muddymelly.deviantart.com/art/Ocean-Stars-Sky-and-You-261089363

Obs. conto escrito há vários meses, numa noite em que tudo o que eu queria era me perder nos olhos dele. Quando dizer que o amava era futuro e nosso "felizes para sempre" ainda era possível.

Edit:Mais precisamente, este conto foi escrito a mão no final de 2014, possivelmente em novembro. Devido ao eu contexto e momento, foi dedicado a J.L.C.



















Passageiro

“Vai se acostumar com a minha mão na sua.”
“Sei que está com vergonha de te verem comigo.”


Mas sequer houve tempo
para que meus dedos finos se adaptassem aos teus.

P a s s o u.

Sequer houve tempo
para que ao tempo se pudesse contar.

Essa breve poesia torta durou mais
que o teu bem querer no meu coração.

Quanto à pergunta que outrora me fez,
eis uma resposta melhor que um “talvez”:
Poderia ter dado certo.




Obs. Poesia escrita em agosto de 2015, inspirada em A.S., dedicada ao mesmo, pois foram dias divertidos que deixaram boas memórias.