Nostalgia


Um punhado de palavras borradas, rabiscos e tinta derramada. Um amontoado de quase nada. Todos os sonhos e planos de uma vida despejados em um futuro cruel que nunca chegaria.

Era tudo tão perfeito, ainda que cheio de defeitos. Aqueles sorrisos inexplicáveis, os olhares cúmplices, quase infantis, quase adultos (adultos que ainda não somos). Amizades sinceras para toda uma eternidade que não veio. Outro tempo, quando sentimentos rendiam bons segredos.

Hoje apenas gostaria que houvesse algum sentimento. Algum amor, alguma vontade irresistível de ver alguém e sorrir sem esforço. Apenas gostaria que restassem pequenos pedaços daquela inocência que ficou para trás com os sonhos repletos de detalhes absurdos demais.

E seriamos tudo: viajantes do futuro, mestres da história e centros da fama. Seriamos o melhor de nós mesmos, mas ainda haveria amizade. Ainda restariam os domingos para rever-se e provar daquela velha receita de bombom de cereja. Ainda restariam as férias para planejarmos viagens com nossas novas famílias.

Mas restaram apenas as lembranças formadoras de sorrisos nostálgicos. Os cadernos escolares guardam mensagens coloridas repletas das gírias que usávamos e hoje mal reconhecemos. Nas prateleiras os livros e presentes de aniversários passados. E no coração guardo essa saudade incurável.

Saudades do éramos e do que seríamos, saudades do mundo em que vivíamos. Não apenas falta daquela velha amizade ou de uma presença que ainda posso encontrar se bem procurar.

E no final resta apenas um buraco vazio nesta presente realidade. Os sonhos realizados ainda são futuro, mas as promessas são apenas passado.





Obs. Texto escrito antes de março de 2014, inspirado em J.A.G.S., dedicado a ela e a tantas outras amizades que o tempo afastou.


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