Bela e poderosa soberana. Devastadora e salvadora. Tantos adjetivos para descrevê-la. Dona de tantas formas e tantos nomes. Às vezes pode também ter gostos e cores, nem sempre agradáveis. Tu és imperatriz e rainha deste planeta que os homens tolamente pensam comandar.

Seu nome?

As lágrimas derramadas pelo céu ganham o nome de chuva ou tempestade, que alimenta a terra e assusta pescadores. O calor a transforma no vapor das nuvens e das brumas, que pode vir de lagos, rios e oceanos, sendo o ciclo infinito que sustenta a vida. O frio faz de ti gelo e neve, novamente bela e mortal. Quem a chama apenas de água não conhece teu verdadeiro poder.

Mas nunca fora tão bela e devastadora como naqueles anos da juventude do mundo. Uma época em que só os céus podem se recordar atualmente, pois a terra não é a mesma de outrora, embora as rochas sejam compostas da mesma matéria. Além de tu, que é oceano e tempestade, somente o céu presenciou o medo e o pavor estampado em cada face daquele povo.

Eles sempre te viram como mãe, como fonte de alimento e vida. No entanto, as lendas falam da tua traição para com seu povo. As lendas contam sobre o mar que destruiu a mais inteligente civilização de todos os tempos. Há muitas lendas sobre o mar, mas nenhuma delas sobreviveu por tantos séculos como Atlântida.

Por muito tempo alimentou e cuidou do teu povo, e nenhum outro foi tão grato como aquele. E por muitas auroras as sereias fizeram coro à tua música nas praias do litoral. Como era encantadora a juventude do mundo! Até hoje o céu lamenta a ausência dos sábios dragões entre tuas nuvens.

Mas então vieram aquelas que os homens chamam de primeiras civilizações. Um erro. A primeira foi apenas uma, a única e grandiosa Atlântida. E aquelas que surgiram mais tarde julgaram erroneamente tuas forças e até pensaram que poderiam controlar-te. Somente os atlantes souberam pedir para navegar sobre teus mares e matar a sede em teus rios.

Foi absurdo.

Foi egoísta.

Foi magnifico.

Mas tomaste tua decisão.

Transformaste em lenda para toda a humanidade de todas as eras a história de teu povo. Tu fora o palco e a protagonista do teu próprio teatro. O céu e a terra foram apenas figurantes.

Veio dos céus, veio do mar e dos lagos. Estava também no ar e nas cavernas subterrâneas. E era apenas uma.

A terra tremeu e o céu gritou com seus trovões. Era a noite mais assustadora que qualquer ser vivo poderia presenciar. Era a noite que as profecias mais antigas já previam e que a lendas de muitas eras ainda irão comentar.

Tua fúria foi tão grande que desfigurou a terra e deslocou rochas, que juntou lagos e mares e elevou montanhas. Em meio a tuas ondas desapareceu aquela que outrora foi rica e mágica. Para tuas profundezas levou a Atlântida com seu povo, com seus dragões, com sua magia.

E teu maior segredo é ter poupado a vida daqueles que sempre te amaram e que sempre foram teus filhos. Pois nem o céu tem certeza de que tu ainda guardas em teus mares o teu povo. Em tuas profundezas o povo atlante habita submerso. E as sereias por vezes cantam na superfície relembrando a juventude do mundo.

Esconde tão bem teu tesouro que outros humanos com suas maquinas infantis, jamais o encontrarão. E lá viverá Atlântida até o fim dos tempos, com seu povo, suas sereias e seus dragões.

Até que o fogo vindo do céu devore sem piedade as outras civilizações.

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