Alguma coisa estranha aconteceu por aqui, mas ainda não sei bem como nomear tudo isso.

Ainda não sei bem em que ponto dessa montanha-russa estou, sei que acabei de sair de uma roda-gigante dizendo que não voltaria tão cedo para um desses brinquedos que envolvem altura e  cá estou gritando como se não fosse precisar da minha voz pela próxima semana. Estou em uma daquelas montanhas-russas que dão um frio na barriga antes mesmo de o carrinho começar a andar, daquelas que a gente não consegue pensar em mais nada além daquilo que os olhos podem alcançar.  

Eu peço calma, mas realmente não quero me segurar. Eu digo vamos, mas estou com um medo absurdo de onde isso vai nos levar. O mundo está acabando e só consigo sentir aquela deliciosa vontade insana de viver, aquela vontade de viver que só as paixões mais intensas sabem despertar.

O passeio no parque de diversões tem valido pelo dia ensolarado, pelos algodões-doces, pelo carrossel e até mesmo pela rápida visita ao circo. Mas o que seria de um parque de diversões sem suas montanhas-russas afinal? Sem o frio na barriga que elas nos causam e o orgulho que temos em dizer que fomos corajosos o suficiente para estar lá?

Duas semanas bastaram para que eu quebrasse todas as promessas de paz que eu me fiz. Nem mesmo uma semana havia se passado quando encontrei a menina que perdi dez anos atrás. Não prevejo, e ainda não ouso arriscar dizer, quantas semanas a mais estão por vir, mas estou me permitindo gostar de cada uma delas. Estou me permitindo permitir. 

Seria tolice dizer que não estou com medo da montanha-russa. Mas está tudo bem, pois eu percebi em qual fila entrei e até conversei com quem sentaria ao meu lado. Então eu apenas fechei meus olhos e pensei: está tudo bem, eu vou sobreviver. Ainda que eu sinta enjoo ou desmaie, eu vou sobreviver. Talvez se eu olhar para o lado eu veja um banco vazio, talvez eu veja alguém igualmente assustado. Tudo bem, iremos sobreviver.

Você ultrapassou a minha zona de segurança, mas estou secretamente torcendo para que esteja preparado para os riscos que ela pode oferecer: desde fraquezas complexas até estranhas certezas, desde vaidades bobas até sonhos tão imutáveis quanto a beleza de um céu estrelado. Você rapidamente me inspirou e também desordenou minha rotina confusamente detalhada. E... Acho que eu gosto de quem eu sou perto de você.






Fonte da imagem: : https://www.deviantart.com/onejumpjohnny/art/Ocean-City-Coaster-70837177

Obs.: J., você sabe que esse também é dedicado a você.












Menino J, quase todo começo é bom, porque se não for a gente ainda sabe fugir pela porta por onde entrou. Começos são leves, bonitos e misteriosos. Começos são um mergulho no desconhecido. Mas são também breves e, por vezes, assustadores, e apenas não são mais leves porque temos ciência de sua brevidade.

Respira.
Fecha teus olhos.
Permita inundar teu peito tudo o que estas sentindo.
Memoriza bem tudo isto, pois um dia vai passar.
E nada no mundo, além da tua memória, vai te fazer voltar.

Assusta-nos pensar no que pode vir depois de um começo. O medo faz parte da beleza de admirar o desconhecido, a beleza de admirar o infinito de possibilidades de tudo o que podemos ser.

Tudo bem, não precisa correr.
Está tudo bom demais para não ser apreciado.
A vista está bonita demais para não se permitir olhar para o lado.

Então menino J, menino ferreiro, deixa eu me perder em você? Perder a noção do tempo, perder o medo de falar sobre qualquer coisa no mundo, perder o medo do que vem depois. Deixa eu me perder no conforto do seu abraço, na beleza da cor dos seus olhos e no som contagiante do seu riso?

Hey menino J, vem comigo? Vem fazer parte das minhas loucuras e também dos meus domingos tranquilos. Vem viver cada dia como nunca mais, como se tudo fosse acabar hoje e também durar para sempre. Vem comigo admirar a beleza infinita de um céu estrelado ou talvez a beleza finita de um mar agitado? Vem comigo deitar na areia sem medo de se sujar, vem viver sem permitir que o medo nos impeça de descobrir onde a vida pode nos levar.

Hey menino J, vem ser feliz!




N/A: Dedicado a alguém que compartilha das minhas loucuras e que tem me inspirado a escrever com uma certa frequência.  



Olhem ao seu redor, crianças, a cidade dorme e vocês estão tão vivas. Tão vivas como nunca antes em suas vidas. O mundo está quieto agora, mas a vocês atormenta essa impulsiva vontade de gritar, essa impulsiva vontade de viver.

Observem bem, crianças, o mundo está acabando, mas a vida de vocês está apenas começando. Sobreviventes de um século que mal terminou, da última infância antes de toda essa sobrecarga digital.

 Prestem atenção, esse é um daqueles momentos que não se permite ao tempo apagar. Um daqueles momentos feitos para se guardar acompanhado de um sorriso saudoso.

Pouco importa a fase em que a lua se encontra no céu, ou a quantia de estrelas que estão a brilhar, pelo menos por esta noite. Já não importa o risco que se corre. Importam apenas as luzes da cidade vazia, tão vazia como nunca se viu antes num domingo à noite. Importam apenas os sorrisos daqueles cujas vidas vocês escolheram cuidar. Importa apenas fazer diferente e ao mundo mudar.

O amanhã virá trazendo o cansaço de todo esse trabalho, mas trará também sorrisos de paz.  E então o amanhã também vai passar.

Olhem bem, crianças, há uma semente de poderes mágicos por aqui, uma semente chamada esperança. Levem-na consigo, cuidem bem e não a deixem de lado quando a semana passar ou quando o mês virar. Não permitam que suas responsabilidades matem esta semente nem mesmo quando um ano mais calmo chegar.

Mesmo que já não sejam tão crianças, não se permitam esquecer que dentro de vocês ainda vivem crianças. Pois ser criança é também acreditar num mundo melhor.

























Oi Mah, como você está? Você continua morando com seus pais ou está morando com o Lucas? O que tem feito? Tanta coisa que nossas conversas breves não me permitiram perguntar.

Que saudade de ti e daquele verão estranhamente confuso de 2015 (nunca vi afinal tanta coisa acontecer em um espaço tão curto de tempo)! Sinto saudades de conversar por horas contigo sobre qualquer aleatoriedade que precisássemos desabafar. Às vezes acho que ser adulta é principalmente sobre saudades e falta de tempo, aliás.

Sei que mais de cinco anos já se passaram, mas mantenho minha promessa de que ainda irei retribuir sua visita, Mah. Foram anos meio turbulentos para conseguir viajar por lazer. Mas acho que agora (assim que a pandemia passar), as coisas vão começar a se estabilizar, financeiramente falando.

                 Falo financeiramente porque todo o resto eu precisei virar de ponta-cabeça para entender o que estava acontecendo. Acho que ainda vai levar um tempinho para colocar tudo no lugar. É como fazer uma reforma, na qual precisei primeiro quebrar algumas paredes e levantar muita poeira. Comecei por desenhar o resultado que eu espero desta reforma, mas então lembrei que é necessário descobrir quais são os pilares que me sustentam, pois confesso que senti medo de perdê-los em meio a tudo o que aconteceu.

                Então cá estou a reler antigos contos e diários, a visitar as memórias que algumas fotos remetem e até mesmo algumas velhas conversas que o tempo ainda não apagou. Cá estou procurando entender a mim mesma para decidir quais caminhos pretendo seguir, tentando me reinventar sem me perder. Dentre algumas das verdades imutáveis encontrei meu amor incondicional pela escrita (e até mesmo ele se escondeu por algum tempo), encontrei também a minha paixão pela ficção, pela leitura e pela ciência. Não importa onde eu vá, tampouco quais caminhos irei escolher, certas coisas nunca irão mudar. Reconhecer isso me parece a melhor forma de trilhar o caminho certo.

                Mas sinto em dizer, nem tudo é muito bonito, Mah. Também encontrei registros que quase não reconheci, como se houvesse outra pessoa vivendo a minha vida. Registros de uma menina mal humorada e briguenta, uma menina que muito lamentava e pouco fazia para mudar sua realidade. E senti vontade de chorar pelas pessoas que magoei e perdi até encontrar uma versão melhor de mim. Felizmente nossa amizade é uma sobrevivente e ainda podemos conversar sobre os dias que ficaram no passado e aqueles que ainda estão por vir.

                Como você sabe, Mah, terminei um relacionamento recentemente. Antes de chegar ao ponto final senti muito medo, pois o mundo fora desse lugar confortável parecia tão diferente da última vez que estive lá fora. Mas quando tudo acabou, confusamente senti liberdade e culpa. Liberdade para dizer tudo o que eu penso e sinto, culpa pois eu acreditei que deveria sentir muito mais tristeza do senti. Talvez de alguma forma a tristeza se faça mais presente quando a realidade vem preenchida com arrependimentos e ausente de esperanças. E bom... de todos os arrependimentos que coleciono, esse não é um deles, pois me parece que aconteceu como precisava acontecer.

                Mas falando sobre esperança, de alguma forma percebi que ela é uma daquelas coisas que não mudam, Mah. Percebi que sempre acreditei que poderia chegar onde quisesse, e também que sempre acreditei no amor, mesmo nos dias mais nublados. Ao folhear as páginas do passado encontrei uma menina que sempre escreveu sobre suas paixões e seus amores, uma menina que continuava a amar mesmo quando nada lhe indicava que pudesse dar certo. Isso me deixou feliz, pois ajudou a entender tudo o que venho sentindo nessas últimas semanas (mas não muda a sensação de que agora é diferente).

                Então é isso, Mah: Cá estou, com alguns planos já em prática, mas ainda muitas ideias para reorganizar, cá estou a carregar cada vez mais duvidas e menos certezas (afinal já não sou mais adolescente para saber tudo). Cá estou, novamente carregando essa confusa esperança de que as coisas vão dar certo e ainda terei boas histórias a contar.  E claro, como todos em 2020, estou também a esperar pelo retorno da possibilidade sair de casa em paz.

Com carinho e um bocado de nostalgia, Hericatz.


P.s. Quando tudo isso acabar acho que serei capaz até mesmo de curtir uma festa de três dias, preferencialmente um Halloween.  Haha






Fonte da imagem: https://www.deviantart.com/lacewingedsaby/art/Letter-from-an-Assassin-311648012

Obs. Texto escrito no dia 29/05/2020

















When you met me I was a little girl. 
 You fell in love with this crazy girl, 
 Then you tried to kill her, 
 Then you asked where did she go.

Ei menino solitário, cá estou despedaçada em pedaços bem pequenos (veja! Talvez você queira engolir, talvez você queira escondê-los). Ei menino solitário, cá estou a odiar cada momento em que nos dei uma nova chance, a odiar cada momento em que acreditei em nosso para sempre. 

Veja! Você queria me fazer chorar, queria me ver quebrar e desmoronar... Então, sorria e observe! Pois... sinto em dizer: não será para sempre. 

Não importa o quanto você duvide, eu te amei até o último minuto, até mesmo quando a minha esperança respirava por aparelhos. Infelizmente, menino solitário, eu te amei até mesmo quando você quis fugir da nossa realidade, quando tudo o que você queria era fugir de nós mesmos. 

 Infelizmente, menino solitário, eu errei e te amei mais do que amei a mim mesma. Tolices de uma menina que você me ajudou a sufocar... 

 Você me fez mulher, me ensinou a secar as lágrimas de menina, você me ensinou a lutar, a jamais apenas esperar. Você me ensinou a amar quem eu sou, a admirar cada pequeno átomo do meu ser, e por isso eu te amei um pouco mais. Você me ensinou a ser forte, mas também me deu forças para sufocar a pequena menina chorona que vivia aqui dentro, a pequena menina sonhadora que respira por aparelhos dentro de mim. Até o dia em que aprendi que matar a menina, era matar também a mulher. 

 Estava tudo bem, mas você pintou em sangue nossa história. Você reescreveu cada dia bonito que vivemos. Assim fica mais fácil para você, mas isso me mata um pouco mais. 

 E… bom, toda mudança tem seu preço. Aquela menina imatura e apaixonada te impedia de fugir quando tudo ficava complicado demais para lutar. Aquela menina apaixonada pela vida, pela leitura e pelas estrelas era quem te pedia para ficar, era quem tinha medo do escuro e chorava a noite. Separar quem é a menina de quem é a mulher foi como separar o médico do monstro: terrível e assustador. 

 A mulher é linda, forte e inteligente, mas é cruel, sorridente e apenas segue em frente. Ela traça estratégias capazes de chegar a qualquer lugar, basta saber onde quer chegar. 

 A menina é irresponsável e inconsequente, ela chora fácil, ama intensamente e acredita até mesmo no inalcançável. A menina nem mesmo hesita ao pedir para ficar, ao se declarar, ao decidir fugir de seu sólido castelo para qualquer lugar. Ela sabe o que quer, e querer abraçar o mundo não lhe parece muita coisa. 

 Eu estava sangrando antes que eu pudesse perceber a dor que estava sentindo, antes que pudesse entender que ferida causou tudo isso. Escondi as lagrimas antes que pudesse perceber que estava chorando. Eu precisava ser forte por nós, mas não pude ser forte por mim. Isso me matou um pouco mais. 


 E hoje a menina respira por aparelhos, menino solitário, nós a colocamos lá, quase conseguimos exterminá-la. Eis que nos deparamos com uma confusa ironia: me vi mulher a chorar com saudades da menina que um dia fui. Encontrei-me sentada no meio-fio de uma rua confusa e abstrata, ali me encontrei machucada, magoada, desesperada. Era apenas uma mulher poderosa que quebrou seu salto e caiu um tombo vergonhoso no meio da festa, uma mulher que se viu querendo ser apenas uma menina. 

  Sempre fui muito boa em amar, mas não poderia deixar o amor me sufocar. Foi por isso que eu parei de te pedir para ficar. Foi por isso que eu me escondi dentro de mim. 

  Não seja tolo em dizer que nunca vou te entender, pois essa dor da solidão de nossos últimos meses eu vivi todas as vezes em você desistiu de nós, todas as vezes que lutei sozinha pelo nosso amor. Essa dor de procurar alguém que não estava lá foi o que me ajudou à menina sufocar. Se ela não voltou para chorar foi porque um dia ela esgotou todas as suas lágrimas quando você disse que não a queria mais. 

 Sempre fui uma menina sonhadora, sempre quis ser tudo aquilo que eu pudesse ser. E eu me recuso a ir embora de mim mesma, ainda que isso possa doer. 

 Ah, menino solitário, como eu queria que tudo fossem as rosas que você me deu, as louças que você gentilmente lavou e os domingos preguiçosos com filmes e vídeo games. Como eu queria que tudo fossem as vezes que eu movi o mundo para te ver bem, nossos passeios no parque e nossas idas ao cinema. Mas nossa história é também sobre discussões sem sentido, sobre como você despreza meu amor pelas estrelas, é também sobre as amizades que deixei no passado e todas as vezes que chorei em pleno desespero. 

 Você disse que me amava até mesmo nos detalhes, você disse até mesmo que fez de tudo para nos salvar. Por que você não foi sempre assim? Por que eu precisei me afastar para que você encontrasse o melhor de mim?






Obs. Escrito em 21/05/2020

Fonte da imagem: https://www.deviantart.com/nanfe/art/before-my-world-falls-507068230

"A arte imita a vida."

Hey Geek Boy, o que está a procurar? Sua rainha para amar? Sua companion para viajar a todos os lugares do universo em aventuras pelo tempo e espaço? Sua menina para compartilhar todas as manhãs de domingo?

Onde será que ela está? Na faculdade? Em algum aplicativo online? A amiga de um amigo talvez? Na vizinhança do seu bairro? Ou quem sabe em algum outro planeta?

Talvez em todos os lugares, talvez em nenhum, Geek Boy. Talvez já a tenha encontrado e não queira notar. Talvez como uma bela comédia romântica você esteja a viver este roteiro confusamente elaborado.

Geek Boy, está preparado para perceber quando o primeiro dia do resto de suas vidas começar? Está preparado para percebê-la quando ela chegar? Pois eu vou lhe contar: o amor não avisa que está para chegar, o amor não avisa como irá se disfarçar, tampouco avisa como tudo deve se desenrolar.

Ele apenas vem. Ele disfarçadamente pede para que você o permita ficar. Ele apenas espera que você se permita viver, que se permita vive-lo.

Eu sei, Geek Boy, ela não é perfeita, ela morre de medo de baratas, chora fácil quando fala em sentimentos e é péssima em contas de matemática. Eu sei, Geek Boy, ela partiu seu coração uma vez, mas nenhum amor é perfeito a ponto de viver sem nenhum desentendimento. O tempo passou, o mundo girou seis vezes e cá estão seus caminhos cruzando novamente, após procurarem o amor em outros braços.

É uma verdade universal que amores de adolescência dificilmente duram. Eles têm a beleza da intensidade, mas têm o defeito da inexperiência, da ausência de maturidade. Mas e quando a pessoa certa é seu primeiro amor? Talvez, Geek Boy, o tempo tenha cuidado do que vocês não saberiam resolver.

Geek Boy, continue a acreditar, mas preste atenção para não deixar o amor passar. Lá fora há muitas meninas bonitas a colecionar diplomas, mas poucas se apaixonariam pelas suas estranhas manias. Lá fora o oceano é vasto, mas poucas sereias mergulhariam no verde dos teus olhos.

Não se assuste, Geek Boy, mas há quem sonhe com seu sorriso todas as noites antes de dormir. Não se desespere, Geek Boy, mas o amor veio bater novamente, não como você ou ela esperavam, mas como a vida escolheu que deveria ser.




Obs. Escrito no dia 16/05/2020.

Fonte da imagem: https://www.deviantart.com/erinbird/art/looking-for-love-354246262




















Quatro anos e três meses inteiros foi a sentença que não sabíamos estar fadados a cumprir naquele 23 de janeiro ensolarado. Em um 23 com um beijo roubado tudo começou, em um 23 com sensação absurda de vazio tudo terminou.

Começar foi tão fácil, foi deixar a correnteza levar, apenas deixar fluir. Aprender a te amar foi como provar café: numa primeira tentativa o paladar pode até estranhar, mas vai pedir mais apenas para confirmar o sabor, e quando menos espera vai perceber o pequeno vício onde foi parar. Até o dia em que percebe que o café está a lhe dar insônia e seu paladar mal nota seu sabor, como se água fosse.

E ia durar para sempre, por quatro anos inteiros foi para sempre... mas não somos Lilly e Marshall, somos Ted e Victória*: destinados a seguir caminhos diferentes. Chegou a hora de perseguir nossos sonhos, de viajar para outros mundos se preciso for. Cá entre nós: talvez até tenhamos vindo de planetas diferentes, leãozinho.

Mas dói. É como estar naquele mesmo rio cuja correnteza nos levou, mas é subir a correnteza, é andar na contramão. É desacostumar com as conversas, os debates políticos e as declarações singelas, desacostumar com as mensagens de “bom dia” e a maneira como você reclamava da louça que eu largava na pia. Dói. Precisa doer. Somente assim o tempo será capaz de nos curar.

Dói, pois agora há um enorme vazio aqui dentro de mim. É como parar de tomar café e precisar se manter acordado após noites mal dormidas. Difícil, dolorido e necessário.

Eu sou ciência, poesia e imaginação. Você é lógica, música e tradição. Tão próximo e tão distante ao mesmo tempo. Você até mesmo disse que sou sua estrela brilhante, mas você não gosta de olhar para o céu, sempre foi de manter os pés no chão.

Leãozinho, nenhum dia jamais será igual depois daquele 23. Mas nós crescemos e precisamos seguir em frente, ou foi essa a história que contamos. Com algumas reticências constrangedoras, só me resta dizer: obrigada por fazer parte da minha história...





Obs. Texto escrito no dia 04/05/2020, inspirado em D.D.E.S. e dedicado a ele, pois esses últimos 4 anos foram foram incrivelmente reais.


Fonte da imagem: https://www.deviantart.com/korny-pnk/art/Goodbye-my-lover-71118272